Sistemas de Comunicação Aumentativa e Alternativa

O desenvolvimento de novas abordagens e de novos sistemas tecnológicos tem permitido que qualquer pessoa independentemente da causa e da gravidade da sua patologia, possa encontrar um sistema alternativo e aumentativo de comunicação adequado à sua incapacidade.

As tecnologias de apoio à comunicação são uma componente essencial do sistema aumentativo de comunicação e permitem aos seus utilizadores a transmissão de uma mensagem seleccionada ao seu interlocutor. As tecnologias de apoio são parte integrante do sistema de comunicação. São dispositivos que não devem ser utilizados isoladamente, mas sim como uma técnica de utilização do sistema de comunicação.

No que toca ás tecnologias de apoio, o terapeuta ocupacional tem um papel central nas discussões sobre as diferentes formas de acesso aos diversos tipos de tecnologias, na integração das funções sensoriais e motoras, no desenvolvimento da funcionalidade dos membros superiores e outras partes do corpo para o controlo do meio ambiente e na aquisição da independência nas actividades da vida diária.

Para atender às necessidades de cada indivíduo, no trabalho com a tecnologia de apoio, é função do terapeuta ocupacional conhecer e analisar os recursos existentes e determinar quais os dispositivos que melhor se aplicam às diferentes situações do dia-a-dia. Cada recurso deve ser vivenciado e incorporado à sua prática com os usuários das tecnologias de apoio.



O termo Comunicação Alternativa e Ampliada é utilizado para definir outras formas de comunicação como o uso de gestos, língua de sinais, expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos, até o uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada (Glennen, 1997). A comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não apresenta outra forma de comunicação e, considerada ampliada quando o indivíduo possui alguma comunicação, mas essa não é suficiente para suas trocas sociais.
Símbolos Gestuais:
A Língua Gestual Portuguesa (LGP) é a língua através da qual grande parte da comunidade surda, em Portugal, comunica.
É produzida por movimentos das mãos, do corpo e por expressões faciais e a sua recepção é visual.
Tem um vocabulário e organização próprios.

Assim sendo, a LGP possui características que fazem dela uma língua e não uma linguagem.
Como qualquer língua oral, a LGP possui variantes dentro do seu próprio país (idioma), alterando, relativamente, de região para região.

No ensino de indivíduos que ouvem, mas com dificuldades no domínio da comunicação, como é o caso de muitas crianças autistas, frequentemente usam estes sistemas gestuais que seguem a estrutura da linguagem oral. A fala é utilizada em conjunto com os signos.
Sistema Makaton: é um programa de linguagem completo. Actualmente inclui um corpo de vocabulário básico ensinado com o recurso a gestos e símbolos em simultâneo com a fala e pressupõe a utilização de estratégias estruturadas de ensino.
É constituído por 350 vocábulos / palavras / gestos distribuídos por oito níveis de complexidade crescente.
O número de vocábulos é restrito, evitando assim a sobrecarga de memória.
Mesmo nos casos em que a capacidade intelectual para a aprendizagem e memorização é bastante fraca e desse modo não consigam verificar grandes evoluções para além dos estados iniciais, permite à criança ter um sistema alternativo de comunicação muito útil ainda que bastante limitado.
É muito utilizado em crianças com bastantes dificuldades de aprendizagem, tais como os autistas, pois usa estímulos visuais, auditivos e gestuais.
Simbolos gráficos:
Os sistemas de simbolos gráficos estão frequentemente ligados ao uso de tecnologias de apoio para a comunicação que compreendem desde as tabelas simples de apontar até aos equipamentos baseados em suportes informáticos, que armazenam os símbolos e ajudam à sua transmissão.

Sistema Bliss: é um sistema visual gráfico representado por símbolos pictográficos (parecem-se com o que representam), que estão acompanhados do seu significado e que representam pessoas, objectos, acções, conceitos, sentimentos. Estão dispostos num quadro com determinada ordem e significado.
Este sistema alternativo de comunicação possui vantagens pois pode ser utilizado em casa, na escola ou em qualquer outro local, visto o quadro ser fácil de transportar.
É de fácil compreensão visto que em cima de cada símbolo existe a palavra escrita e é fundamental para a aprendizagem da leitura e da escrita, reforça a construção correcta das frases e o reforço visual é constante.
Destina-se a crianças com défices auditivos, visuais, mentais, autistas, atrasos de desenvolvimento de linguagem, entre outros.Com o objectivo de que a criança adquira uma maior independência, haja um desenvolvimento da linguagem, uma interacção sócio-familiar melhorada e exista uma estimulação intelectual.

Sistema PIC (Pictogram Ideogram Communication): os “Pictogramas” são um sistema que foi concebido com o objectivo de possibilitar a comunicação e assim estimular e desenvolver as capacidades de percepção e conceptualização de pessoas impossibilitadas de comunicar oralmente.
Pode ser usado por crianças e jovens com atrasos acentuados no desenvolvimento intelectual, com dificuldades na fala e/ou com problemas a nível perceptivo.
Este método é composto por 400 símbolos que englobam mais de 400 conceitos.
Os símbolos graficamente são constituídos por figuras brancas, aperfeiçoadas, sobre um fundo preto, para reduzir as dificuldades de discriminação entre figura e fundo. Podem ser agrupadas por áreas de interesse, facilitando assim à criança a construção de frases.
Sistema PECS (Picture Exchange Communication System): forma um sistema de comunicação completo e foi originalmente desenhado para criar, rápida e economicamente, recursos consistentes de comunicação. Este é o método de comunicação mais utilizado com autistas, desde os primeiros anos de vida.

Foi originalmente desenvolvido para crianças do espectro autista em idade pré-escolar, mas actualmente é usado por crianças e adultos com perturbações do espectro do autismo e outros diagnósticos que apresentem dificuldades na fala e na comunicação.
Através deste método, a criança autista consegue desenvolver a fala, pois tenta responder a todas as necessidades e desejos, desde os mais básicos aos mais complexos. Os cartões com fotos de objectos que significam coisas que a criança necessite, como: “beber água”, “comer”, “ir ao banheiro” ou “brincar” fazem com que a criança comunique tudo aquilo que precisar naquele momento.

O PECS tem como objectivo ir ao encontro daquilo que atrai as crianças, como alimentos, bebidas, brinquedos, livros. Depois de se conhecerem as preferências da criança são feitas imagens desses objectos que, posteriormente, serão apresentadas e oferecidas a esta. Lentamente, é retirada a ajuda física para apanhar a imagem, para que a criança comece a desenvolver a iniciativa de iniciar a interacção, pegando na imagem e entregando-a ao terapeuta.
Progressivamente, o grau de dificuldade será aumentado, ao ponto do sistema ensinar a criança a criar enunciados simples a partir das imagens e de uma sequência de frases.


É fácil de ser aprendido e pode ser usado por terapeutas, pais e professores pois não requer materiais complexos nem um treino técnico. Não requer equipamento de alto custo daí ser uma ajuda tanto dentro da sala de aula, em casa como na comunidade.
Não existe limites para a sua utilização, apenas é necessária criatividade para que este método resulte com sucesso.


Sistema SPC (Símbolos Pictográficos para a Comunicação): constituído por desenhos a preto que representam substantivos, verbos e adjectivos. O fundo sobre o qual o símbolo é desenhado pode ser branco ou de outra cor. É normal o emprego de cores comuns aos vários géneros (substantivos, verbos e adjectivos).


O SPC é apropriado para ser utilizado, tanto por pessoas cujas necessidades comunicativas sejam equivalentes a um nível de linguagem simples (necessitando de um vocabulário limitado e de estruturar frases relativamente curtas) como por pessoas com níveis de linguagem mais elaborados (que necessitam de utilizar uma gama de vocabulário muito vasta, com possibilidades de estruturar frases de maior complexidade). Pode assim considerar-se como um sistema flexível que pode evoluir, ajustando-se às necessidades comunicativas do seu utilizador.

Sistema Rebus: constituído por 818 rébus ou logogrifos diferentes, estes podem ser simples ou complexos. O sistema simples faz uso de um pictograma para representar uma palavra ou parte dela, enquanto o sistema complexo combina pictogramas com letras, números, notas musicais, entre outros. Combinados podem representar mais de 2000 palavras.

Os Lexigramas: baseiam-se num conjunto de nove elementos que se podem combinar para dar lugar a diversas configurações, às quais se atribui interpretação. O objectivo é que os símbolos não sejam pictográficos. Como não existem significados estabelecidos, a interpretação dos símbolos é atribuída segundo as necessidades comunicativas de cada pessoa e do seu contexto.

O Sigsym: baseia-se tanto na semelhança iconográfica com o referente como na língua gestual. Há três tipos de signos: pictográficos, ideográficos e representações gráficas dos signos gestuais. É a utilização destes últimos, criados com base nas configurações dos signos gestuais, que constituem a característica original deste sistema em relação aos outros. O Sigsym é muito útil para as pessoas que usam signos gráficos e signos gestuais e, também, como uma possível linguagem escrita para pessoas que aprendem os signos gestuais.

Signos Tangíveis: são geralmente feitos em madeira ou plástico, podendo apresentar formas e texturas diferentes, permitindo assim discriminar as sensações tácteis que transmitem, como a forma, a textura e a consistência.

Objectos reais ou miniaturas de objectos idênticos, similares ou associados aos seus referentes, são exemplos de símbolos tangíveis. Algumas crianças podem beneficiar em ver e tocar a forma do signo. O sistema de comunicação tangível mais antigo e extenso foi criado por Premack (1971). As fichas Premack constituem um sistema de ensino para pessoas com deficiência mental ou autismo. São feitas de plástico ou de madeira e distinguem-se entre elas pelas suas formas. O que distingue estes signos dos outros é o facto de poderem ser manuseados e movimentados. As fichas são marcadas com códigos de cores que indicam a localização da palavra na frase. Assim, os artigos estão marcados a vermelho, os verbos a azul, os substantivos a cor-de-laranja. Além de aprenderem a usar fichas, as crianças aprendem também uma sintaxe simplificada, na qual os diferentes tipos de frases são construídos com diferentes sequências de cores.



Tecnologias de Apoio para a Comunicação
Recursos de Baixa Tecnologia
Pranchas de comunicação - As pranchas de comunicação podem ser construídas utilizando objectos, símbolos, letras, sílabas, palavras e frases ou números. As pranchas são personalizadas e devem considerar as possibilidades cognitivas, visuais e motoras do indivíduo. Podem estar soltas ou agrupadas em cadernos ou albuns. O indivíduo vai olhar, apontar ou ter a informação apontada pelo parceiro de comunicação.
Eye-gaze - pranchas de apontar através dos olhos. Podem ser dispostas sobre a mesa ou apoiada num suporte de plástico colocado na vertical. O indivíduo também pode apontar com o auxílio de uma lanterna com foco convergente, fixada ao lado da sua cabeça de forma a iluminar a resposta desejada.

Avental - é um avental confeccionado em tecido que facilita a fixação de símbolos ou letras em velcro. No avental, o parceiro de comunicação prende as letras ou as palavras e o indivíduo responde através do olhar.

Comunicador em forma de relógio - o comunicador é um recurso que fomenta a autonomia do indivíduo. O seu princípio é semelhante ao do relógio, só que é a pessoa que comanda o movimento do ponteiro apertando um accionador.  


Recursos de Alta Tecnologia
Comunicadores com voz gravada - são comunicadores onde as mensagens podem ser gravadas pelo parceiro de comunicação.

Comunicador com voz sintetizada - No comunicador com voz sintetizada, o texto é transformado eletronicamente em voz.

Computadores - Com o avanço da tecnologia têm surgido novos SAAC para as pessoas com necessidades especiais como o Comunique, o IntelliPics Studio, o OverlayMaker, o Escrita com Símbolos, o Boardmaker entre outros.



Quais são os sistemas de selecção?
Selecção directa - é o método mais rápido e pode ser feito através do apontar do dedo ou outra parte do corpo, com um ponteiro de cabeça ou com uma luz fixada à mesma.

Sistema de varrimento - exige que o indivíduo tenha uma resposta voluntária e consistente como piscar os olhos, balançar a cabeça, sorrir ou emitir um som para que possa sinalizar a sua resposta. Os sistemas de varrimento podem ser lineares, circulares, de linhas e colunas ou em blocos.


Sistema da codificação - permite a ampliação de significados a partir de um número limitado de símbolos e o aumento da velocidade. É uma técnica bastante eficiente para utilizadores com dificuldades motoras graves, mas exige um maior grau de abstracção.





3 comentários:

Lucineide disse...

Belo Trabalho!
Muito esclarecedor!!!
Me ajudou muito!
Abraços!
:))

Lu

Unknown disse...

Olá
Eu gostava de saber se me podiam ajudar a descobrir o método de comunicação por simbolos, para crianças com autismo que permita perceber o local e o grau de dor que a criança sente.
Alexandra

Anónimo disse...

Mercedes diz.
Itapevi ,07 de Maio de 2011.

Apreciei muito as atividades propostas,muito criativos os materias utilizados para o aprendizado do educando.

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