Intervenção Familiar

Descobrir que um filho tem Autismo pode ser muito difícil de aceitar para certos pais. Questões que se prendem com preconceitos, que infelizmente ainda existem, sobre o diagnóstico, a dificuldade de entender e muitas vezes aceitar o autismo, a preocupação vinda da incerteza que é o futuro do filho e as mudanças familiares face a uma perturbação incurável, precisam ser encaradas com respeito, e trabalhadas, visando a vinculação e a confiança para que se consigam atingir resultados positivos na abordagem das perturbações globais do desenvolvimento.


É de todo impossível trabalhar com crianças e adolescentes e desprezar o papel dos pais ou cuidadores. São eles que acompanham a criança nas dificuldades dia-a-dia, que passam mais tempo com elas e, seguramente, são eles que as conhecem melhor!

Muitas vezes, os pais apresentam sentimentos que se reflectem na maneira de interagir com os seus filhos, muitos deles sentem-se impotentes perante a situação e admitem não saber o que fazer em determinada situação, não saber lidar com o seu filho. Uma boa relação com as pessoas que mais lhes são chegadas é importante para o bom desenvolvimento dos mais pequeninos. Nas crianças com autismo, apesar da sua dificuldade em socializar e comunicar, essa relação é igualmente necessária e muito importante.

Como já referenciado neste blog, os pais devem assumir a posição dos filhos, brincar com eles sempre com o objectivo de proporcionar situações que possam estimular a criança a adquirir novas competências. Isto pode parecer difícil para os pais, “Como é que eu faço isso?”, “Como sei se estou a fazer o que é certo?”, estas dúvidas são legítimas e desanimadoras, no entanto os pais nunca devem deixar de procurar ajuda.

O TPBA (Avaliação Trandisciplinar Centrada no Jogo) e o TPBI (Intervenção Trandisciplinar Centrada no Jogo) são dois métodos que muito podem auxiliar os pais onde envolve a criança em situações de jogo estruturadas, ou não, pelos pais ou por um dos profissionais. No TPBA, a criança é observada durante um determinado período de tempo a brincar com um facilitador, um dos profissionais que constitui a equipa ou os seus pais. O facilitador deve comentar a acção da criança, modular os estímulos, usar tempos de espera, introduzir a troca de turnos, promover a interacção social, provocar acontecimentos interessantes, ajudar a criança a criar estratégias para resolver problemas e equilibrar a experimentação, demonstração e orientação. Esta observação providencia uma avaliação desenvolvimental em diferentes domínios, nomeadamente o cognitivo, o motor, o sócio-emocional e a linguagem/comunicação. O segundo (TPBI) constitui um processo de intervenção natural e funcional que é construído de acordo com as competências da criança e que promovem um desenvolvimento positivo. Preconiza que a intervenção deve ser expandida à casa da criança, escola e restante comunidade, sendo este processo orientado para a criança considerando as suas motivações e interacções com o meio como chave para a aprendizagem.

O TPBI é um processo orientado para a família que a envolve directamente no processo de tomada de decisão sobre o tipo de intervenção mais apropriado e encoraja a utilização de tarefas domésticas e situações com que a criança se depara diariamente como sendo materiais lúdicos e oportunidades de interacção e desenvolvimento, ou seja, através destes é possível que os pais sejam parte interveniente na expansão das competências dos seus filhos sentindo-se deste modo úteis e capazes de ajudar.


Um estudo realizado por Bristol e Schopler (1983) demonstra que o stress dos familiares destas crianças é mais elevado do que aqueles que possuem um filho com um desenvolvimento típico ou até mesmo com Síndrome de Down, sugerindo que o stress parece ser um processo geralmente encontrado nos familiares de pessoas com autismo em virtude da especificidade da síndrome. Por isso, um novo conceito foi criado, o conceito de copping. Este conceito tem sido descrito como o conjunto de estratégias utilizadas pelas pessoas para se adaptarem a circunstâncias adversas ou stressantes.


Vários autores identificam duas formas principais de copping:

Centrado no problema: inclui estratégias de definição do problema, criação de soluções alternativas, selecção e implementação da alternativa escolhida.

- Centrado na emoção: tem como objectivo promover acções para controlar o estado emocional e impedir que as emoções negativas afectem a promoção de acções para a solução dos seus problemas.

O copping deve ser visto como independente do seu resultado! Uma estratégia de coping não pode ser considerada propriamente boa ou má, mas precisa de ser avaliada a partir do contexto e das características em que ocorreu o episódio de stress e dos indivíduos envolvidos.

Para Compas (1987), ambas as estratégias de coping são importantes, no entanto, a sua eficácia é principalmente caracterizada por flexibilidade e mudança. Novos embates requerem novas formas de coping, pois uma estratégia não é eficaz para todos os tipos de stress.

Com o auxílio das técnicas e métodos aqui mencionados e com todos os outros aqui referenciados no blog, ainda que alguns sejam conceitos bastantes teóricos, os pais conseguirão compreender os seus filhos, as suas reacções e os seus comportamentos o que deste modo irá promover o seu desenvolvimento em diversas áreas e levará, principalmente, a que se sintam compreendidos, apesar da sua maneira tão especial de viver a vida.





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